sábado, 18 de junho de 2011

Genes podem explicar rápido avanço da aids em algumas pessoas

Uma pesquisa espanhola divulgada esta semana no Journal of Clinical Investigation afirma ter encontrado uma explicação genética para os casos em que a aids surge quase imediatamente depois da infecção pelo vírus.
O estudo pode, no futuro, resultar em estratégias individualizadas para a administração de antirretrovirais. Leia a seguir a notícia na íntegra a seguir.

Genes "apressam" o vírus da aids

Ao ser infectado pelo vírus HIV, o paciente se vê diante de um panorama de indefinição sobre o futuro de sua saúde.
Características próprias do agente infecioso fazem com que alguns pacientes desenvolvam a doença rapidamente, enquanto outros passam décadas sem nenhum sintoma da aids.
Uma pesquisa espanhola, divulgada na edição de ontem do Journal of Clinical Investigation, afirma ter encontrado uma explicação genética para os casos onde a aids surge quase imediatamente depois da infecção pelo vírus.
Segundo o estudo, seis genes, presentes em cerca de 8% da população mundial, são os responsáveis pela baixa resposta imunológica ao vírus, facilitando sua rápida instalação.
A pesquisa pode, no futuro, resultar em estratégias individualizadas para a administração da medicação aos soropositivos.
A descoberta, feita por cientistas do Instituto de Pesquisas de aids IrsiCaixa e do Departamento de Saúde da Catalunha, ambos da Espanha, foi possível depois do mapeamento de 25 mil genes de 66 pacientes, a maioria portadora do tipo B do vírus - o mais comum na Europa e na América.
"A localização desses genes nos pacientes estudados é semelhante à localização de genes semelhantes previamente conhecidos em macacos.
Esse dado nos dá fortes indícios de que se trata de uma característica presente em todas as pessoas e não apenas nas populações estudadas", disse ao Correio Javier Martínez-Picado, principal autor do estudo.
A identificação fecha um ciclo iniciado em 2004, quando pesquisadores norte-americanos encontraram genes que têm a função inversa: permitem uma resposta eficaz ao vírus, retardando o aparecimento dos primeiros sintomas.
"No futuro, será possível fazer exames para detectar o tipo de resposta imune que cada paciente dará à doença.
Saber se ele é do tipo que vai desenvolver a aids precocemente ou tardiamente permitirá desenvolver estratégicas mais eficazes de medicação", conta o pesquisador espanhol.

Futuro

Segundo o cientista Enrique Argañaraz, do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade de Brasília (UnB), a pesquisa também abre uma nova perspectiva para o desenvolvimento de uma futura vacina.
"Durante o processo de resposta ao vírus, a célula picota o HIV e apresenta uma parte dele ao sistema de defesa do organismo, que baseia nele a sua reação imunológica", explica o professor.
Se o fragmento apresentado é de uma parte importante do vírus, a resposta poderá ser mais eficaz no combate à aids e, portanto, o desenvolvimento da doença será dificultado.
"Entender quais mecanismos genéticos estão envolvidos nesse processo de seleção do fragmento poderá, no futuro, ajudar a criar terapias que ensinem a célula a escolher partes mais eficazes para atacar", completa.
Outro pondo ainda obscuro da infecção por HIV é a resposta que cada paciente dá ao tratamento. Ao contrário de outras doenças, a quantidade de vírus presente no organismo não está diretamente ligada à intensidade da doença.
"É possível ter um índice de infestação altíssimo e não desenvolver um caso grave da aids, e vice-versa", conta Argañaraz. Esse deve ser o novo passo dos pesquisadores espanhóis.
"Ampliamos nossa amostra de 66 para 120 pacientes e pretendemos verificar se há uma causa genética tanto para a resposta diferente que cada pessoa tem ao tratamento quanto para a forma que o organismo desses pacientes reage ao vírus", completa Javier Martínez-Picado.

http://www.correiodoestado.com.br/noticias/genes-podem-explicar-rapido-avanco-da-aids-em-algumas-pessoa_114787/

Alteração cerebral explica prática do bareback

Durante o 7º Congresso Brasileiro do Cérebro, Comportamento e Emoções, pesquisadores relacionaram o comportamento de risco ao HV a uma alteração cerebral dos sistemas de risco e prazer. Confira a notícia na íntegra a seguir..

Neurociência explica comportamento de risco sexual extremo
Por que alguém participa de uma orgia sexual sem camisinha que inclui sabidamente participantes contaminados com o HIV? É o que estudos de neurociência vem tentando explicar.

As convenções de "barebacking", também conhecidas como "roletas-russas sexuais", reúnem dois grupos de participantes (a maioria homens): os infectados com o vírus HIV e os não infectados. 

O primeiro grupo é conhecido como "gift givers". Os que "dão presentes", em tradução literal. Eles estão dispostos a infectar outras pessoas com o HIV. Ou seja, entregar o "presente".

A segunda categoria é conhecida como "chasers": os caçadores do vírus HIV.

As convenções, marcadas por meio de fóruns na internet, exigem que todos fiquem nus e façam sexo em público. "Para quem faz parte dessas reuniões, é só o prazer que importa. Todos nós temos um mecanismo que nos faz avaliar se um comportamento vale a pena ou não. Para essas pessoas, sempre vale", diz Alexandre Saadeh, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.

Em palestra no "7º Congresso Brasileiro do Cérebro, Comportamento e Emoções", que acaba hoje, em Gramado (RS), o psiquiatra apresentou uma abordagem científica para explicar a prática.

Prazer e perigo

Para o especialista, trata-se de uma alteração no sistema de recompensa do cérebro -o responsável por nos fazer sentir prazer.

"No cérebro, a região responsável pela sensação de perigo é muito próxima à do prazer. Então, existe uma interferência", explica Saadeh.

"O mecanismo que leva à roleta-russa sexual é a excitação do perigo. É a mesma que faz alguém querer fazer sexo na rua ou no avião. A diferença é que, no primeiro caso, existe uma exacerbação extrema", diz o psiquiatra.

Para Saadeh, com os avanços da medicina, os participantes já não encaram a aids como uma doença mortal.

Eles sabem que, se contaminados, poderão viver por muitos anos se usarem o coquetel contra o vírus. Por isso, passam a encarar a infecção de uma maneira positiva.

"Ser contaminado com o HIV representa o fim do medo. Como eles já estão infectados com o maior dos temores, acreditam que podem transar sem camisinha livremente", diz Saadeh, que também coordena o Amtigos (Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual)

Só homens

Para o pesquisador, o fato de a prática ser mais masculina evidencia diferenças cerebrais em relação ao comportamento sexual. "A composição cerebral do homem aumenta sua tendência a essas compulsões pelo prazer."

O tema é tabu nos consultórios. "Os pacientes relutam em falar. Só é possível abordar o tema depois de estabelecer uma forte relação de confiança", disse Saadeh.

Fonte: Folha de S.Paulo