Gel pode ser usado por mulheres cujos parceiros não usam preservativos
Um gel vaginal com propriedades
microbicidas que está sendo testado na África do Sul conseguiu diminuir
de maneira significativa o risco de mulheres que o utilizaram de se
infectarem com o vírus HIV, de acordo com um estudo publicado nesta
segunda-feira pela revista científica Science.
O gel, que contém o medicamento antirretroviral
Tenofovir, usado no tratamento da Aids, diminuiu em 39%, em média, a
chance de as mulheres que o utilizaram de se infectarem com o vírus.
Entre as mulheres que usaram o medicamento com mais frequência, a
diminuição do risco de contrair a doença chegou a 54%.
Se os resultados da pesquisa se confirmarem,
esta será a primeira vez que um gel microbicida se mostrou eficiente na
prevenção à doença.
O novo medicamento poderia ser utilizado por mulheres cujos parceiros se recusam a usar preservativos.
Segundo os pesquisadores, também foi constatada
uma redução da incidência de herpes genital entre as mulheres que
utilizaram o gel.
Testes
O estudo é resultado de uma pesquisa de três
anos feita pela fundação Centre for the Aids Programme of Research in
South Africa (Caprisa) e foi apresentado nesta segunda-feira durante uma
conferência internacional sobre Aids que está sendo realizada em Viena,
capital da Áustria.
De acordo com os pesquisadores, o gel se mostrou
eficiente e seguro quando utilizado 12 horas antes da relação sexual e
12 horas depois da mesma por mulheres entre 18 e 40 anos de idade.
Segundo Salim Abdool Karim, um dos autores da
pesquisa, entre as 889 mulheres envolvidas nos testes - realizados na
cidade sul-africana de Durban e também em um pequeno vilarejo rural – a
grande maioria utilizou o gel conforme recomendado.
Além do medicamento, os pesquisadores forneceram
preservativos e orientação sobre doenças sexualmente transmissíveis às
participantes do estudo. As mulheres também passaram por testes mensais
para detectar a presença do HIV.
Trinta meses após o início das pesquisas, 98
mulheres haviam sido infectadas com o HIV – 38 no grupo de estava
utilizando o novo gel e 60 no grupo para o qual foram fornecidos
placebos (substâncias sem efeitos farmacológicos utilizadas para
controle em pesquisas).
“Isto mostra uma incidência 39% menor no grupo que utilizou o (gel com) Tenofovir”, disse Karim.
Segundo o pesquisador, o gel diminuiu o risco de
incidência de HIV em cerca de 50% nos 12 primeiros meses, mas a
eficiência caiu depois disso.
Ele afirmou que as mulheres que utilizaram o gel de forma “consistente” se mostraram menos propensas a se infectarem.
Ainda de acordo com o pesquisador, uma das vantagens do novo produto seria seu preço baixo.
Esperança
Michel Sidibé, diretor-executivo do Unaids
(Programa das Nações Unidas para HIV/Aids) comemorou os resultados da
pesquisa e destacou o fato de ela levar a um método de prevenção que
pode ser controlado pelas mulheres, independente de seus parceiros.
“Nós estamos dando esperanças às mulheres. Pela
primeira vez nós estamos vendo resultados de uma opção de prevenção ao
HIV controlada por mulheres”, disse.
A diretora-geral da OMS (Organização Mundial de
Saúde), Margareth Chan, também comemorou os resultados e disse esperar
que eles sejam confirmados por outras pesquisas.
“Assim que eles se mostrarem seguros e
eficientes, a OMS irá trabalhar com governos e parceiros para acelerar o
acesso a esses produtos”, disse.